Desculpem-me...

Pessoal,

Desculpem por não ter dado uma passada por aqui descentemente nessas últimas semanas, estava com minha filha doente a quatro semanas. Fomos com ela uma vez por semana no pronto socorro porque tinha uma febre muito alta que parecia do nada, o nariz entupido e escorrendo, sem contar que não conseguia dormir a noite. Ela ficou com os olhos muito vermelhos, sensíveis e com olheiras por causa das várias noites sem dormir.

Eu fiquei desesperada porque era muito nitido que ela não estava bem, automaticamente eu também não fiquei. Pois passei a sentir dor de cabeça as 24hs do dia. Por causa disso, meu marido não pode ir para seu curso e eu não podia faltar as aulas por causa do contéudo.

Quando foi na quinta-feira a noite orei ao Pai Celestial dizendo que estava disposta a largar meu curso. Eu havia conquistado o que desejava com a ajuda Dele, mas já havia entendido quais eram minhas prioridades numa experiência anterior e não estava disposta e sacrificar minha filha novamente.

Não dava mais pra deixar ela daquele jeito, pois eu não estava conseguindo dar conta dela e de estar na sala de aula. Meu corpo estava tão cansado que algumas vezes parecia que não obedecia meus comandos.

Eu sabia que não seria fácil estudar e naquele dia eu havia chorado muito em sala de aula. Vou contar o que acontece...

No curso que frequento é muito difícil ver mulheres, tanto que em minha sala somos 3 em meio a 40 alunos. Pra mim não tem nada demais, porém, para a maioria de meus colegas é um grande encomodo. Parece que estamos roubando algo deles, porque as indiretas, os olhares e os comentários são constantes, quase diários. Eles já expressaram claramente que "acham" que deveriamos estar fazendo um curso de secretariado ou no máximo logística (não porque tenha um mercado para mulheres, mas porque estariamos em outra sala), é um grande absurdo cursarmos Redes de Computadores. Chegaram ao ponto de fazerem uma aposta para ver qual de nós três concluirá o curso.

Fui a que ganhei mais votos entre os apostadores, não por inteligência... mas o fato de ser mais "descontraida" tanto no falar, agir e vestir. Pois as outras são mais delicadas e vaidosas com os cabelos, unhas, roupas...

Além do desafio de continuar o curso por causa do pouco tempo que tenho para estudar, tenho o desafio de deparar-me com esse tipo de machismo idiota. E confesso que alguns dias me sinto sem forças pra enfrentar tudo isso, já que as outras meninas não se manifestam quando os comentários acontecem. Mas esperam que eu o faça.

Meus colegas tem me conhecido e sabem que pra mim não existe curso pra homem e curso para a mulher. E que estou lá da mesma forma que eles, passei dignamente na prova e tenho os mesmos direitos.

Porém, o cárater é enfraquecido quando os próprios professores fazem suas piadas machistas. Um dia foi um professor que fez um comentário sobre os conectores RJ45 macho e fêmea (foi pornografico, imoral, machista e ofensivo). Naquele dia o pessoal percebeu que eu não era uma "songa monga".

Durante a aula não tive qualquer reação porque o espírito de ira se apossou de mim. Eu sabia que poderia ofender ao professor e meus colegas que deram risada.

Outra semana foi um colega que fez um comentário durante a aula de português. Ainda bem que era professora e ela não hora questionou o comentário dele. Depois ele até me pediu desculpas e disse que entendeu o porque de eu defender certos príncipios em sala de aula.

Já nessa quinta-feira o professor estava explicando a diferença entre os vários programas de LOOP e absurdamente ele usou a comparação dos tipos de namoradas. Eu nem vou perder meu tempo explicando, basta dizer que ele explicou que existem namoradas que o cidadão chega, "faz a festa" e se ela reclamar ele faz novamente.

Todos deram risada, exceto dois de meus colegas. Um por ser sensato e o outro porque me conhece e quando percebeu o rumo da explicação já viu minha fisionomia mudar. No auge da explicação o professor decidiu perguntar pra uma das meninas que tipo de cara que ela gostava, sua resposta: "Eu prefiro não opinar sobre esse assunto."

Antes que o professor perguntasse pra mim, o meu segundo colega tentou voltar a aula. Mas o professor me perguntou. Com a cara fechada disse que não havia gostado da explicação dele porque era ofensiva, não só por ouvir de um professor, mas por saber que meus colegas de classe haviam participado na situação.

O professor ficou desorientado e tentou dar uma resposta por mim. Eu retruquei calmamente dizendo que eu não era o tipo que ele havia dito e que não gostaria de continuar ouvindo aquela explicação. Ele tentou explicar da forma como um professor deve se comportar com seus alunos e fez-me uma pergunta, não respondi, pedi desculpas e disse não estar prestando atenção.

Durante todo o resto de aula tive vontade de abrir a porta, voltar pra casa para cuidar de minha filha e não voltar pra escola nunca mais. Mas, apenas chorei. Um de meus colegas pediu desculpas por ter dado risada. Outro disse que não deixaria de dar risada, mas concordava com o fato de que o professor não deveria fazer esse tipo de piada ou comentário numa sala onde tem meninas. Outro colega (o qual eu tinha muito carinho até então) disse que sou muito sensível e estou com frescura. O colega que percebeu que a coisa não ía prestar, foi o mais prestativo e ele disse que fez tudo isso porque sabia que aquilo me ofendia. Sou muito grata a ele.

Aquele primeiro que não deu risada, durante a explicação do professor sussurrou "é um absurdo". Também sou grata a ele por não ter participado daquele circo.

Quando cheguei em casa, enquanto tentava cuidar de minha filha orei. Eu não tinha mais forças físicas e mental. Chorei por horas, até que minha filha dormiu em meu colo e eu caí de sono com ela em minhas pernas. Meu marido que estava na sala, foi até o quarto, pegou nossa filha, colocou para dormir na sala e me cobriu.

Por um milagre divino no dia seguinte minha filha amanheceu curada. Eu nunca tive uma experiência tão divina como essa. Parecia que o Senhor queria ver se eu havia entendido quais eram minhas prioridades. E no momento que fui sincera com ele e demonstrei estar disposta a largar tudo, Ele falou: "Agora sim! Você merece continuar estudando e vou lhe ajudar com o restante."

Naquela mesma noite durmi muito pouco, mas amanheci sem dor de cabeça. Meu corpo estava ativo novamente.

Sei que o Senhor nos ajuda nos piores momentos, desde que estejamos fazendo que é correto ou estejamos dispostos a fazer. A minha decisão era algo que eu tanto havia desejado, mas minha filha e meu chamado na Igreja são minhas prioridades.

Acredito que o mesmo acontece com alguém que está para ir pra missão, mas quando oferece seu coração ao Senhor ele faz com que o resto de sua vida congele e quando sua missão termina, sua vida volta a rodar. Nada é perdido nesses dois anos ou um ano e meio. Só é acrescentado.

Sou feliz por fazer parte dessa igreja e por ter sido consolada o momento que mais precisei.

Ah, meu marido só soube do que aconteceu na escola e sobre minha decisão ontem a noite. Até o momento ele achou que estou estava chorando só porque estava cansada.

Peço que vocês possam orar por mim, para que eu tenha forças para continuar e para estudar para as provas que acontecerão daqui a duas semanas.

Amo essa vida agitada que tenho dentro da Igreja e não tenho dúvida quanto ao que o Senhor espera de mim!!!